Reavivar a fé em Cristo nos fiéis leigos
Eu venci o mundo!
Jo 16,33
1. INTRODUÇÃO
1. A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe – CEAST, assumiu a “NOVA EVANGELIZAÇÃO” como tema geral da Pastoral para o Triénio 2014-2016. Depois da mensagem pastoral “Missionários enraízados em Cristo”, para o Ano Pastoral 2015, propomos que as comunidades cristãs estudem e reflictam sobre o dinamismo e as implicações da fé em Cristo na vida dos fiéis leigos.
2. A FÉ EM JESUS CRISTO SALVADOR
2. No centro do cristianismo, encontramos essencialmente uma Pessoa: a Pessoa de Jesus Cristo, «Filho Único do Pai, cheio de Graça e de Verdade» (Jo. 1, 14), que sofreu e morreu por nós, e que agora, ressuscitado, vive connosco para sempre. É o seguimento, «Sequela Christi», de Jesus Cristo, «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo. 14,6), que define a vida cristã. O encontro com a Pessoa de Jesus é a base da vida do cristão. Por isso, nos diz o Papa Francisco na Evangelii Gaudium: «Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído» (EG 3).
A fé cristã é, ao mesmo tempo, um dom gratuito de Deus que cada pessoa é convidada a acolher e a cultivar, numa livre resposta à iniciativa divina. A fé tem, portanto, uma dimensão pessoal insubstituível – que pela acção do Espírito Santo une cada cristão a Jesus Cristo Salvador e Revelador do rosto amoroso de Deus – e também uma dimensão comunitária irrenunciável, pois não se trata da “minha” fé, mas da fé da Igreja, da fé acolhida, celebrada, testemunhada e transmitida pelos apóstolos e pelos discípulos e discípulas do Senhor Ressuscitado, ao longo da história.
Assim se, por um lado, a fé se expressa nos seus conteúdos – o credo – que os cristãos professam, ela implica, igualmente, uma dimensão de confiança e intimidade com o mistério insondável de Deus, vivido, de forma única e irrepetível, em cada crente e, ao mesmo tempo, em todo o Povo de Deus.
3. O dinamismo da fé, na vida de cada cristão e de cada comunidade cristã, está profunda-mente ligado às outras virtudes teologais:
– a esperança como certeza do cumprimento das promessas de Jesus Cristo referentes à vida Eterna, uma esperança que assenta em Deus como Senhor da história de cada pessoa e de toda a humanidade;
– e a caridade operante segundo o espírito das bem-aventuranças.
São estas virtudes que nos introduzem na vida de comunhão plena com Deus, enquanto peregrinamos à espera do encontro definitivo, na parusia final.
3. A identidade laical à luz da fé
4. É à luz da fé que descubro a minha vocação, ao fazer a experiência de que Deus me ama, me chama e me envia a trabalhar na sua vinha (cf. Mt 21,28). Como refere a Exortação pós- Sinodal Christifidelis Laici, Deus “chama-me e envia-me a trabalhar para o advento do Seu Reino na história: esta vocação e missão pessoal define a dignidade e a responsabilidade de cada fiel leigo e constitui o ponto forte de toda a acção formativa, em ordem ao reconhecimento alegre e agradecido de tal dignidade e ao cumprimento fiel e generoso de tal responsabilidade” (CFL 58).
Deste modo, a construção do Reino de Deus no “hoje” da história, nas realidades temporais da política, do compromisso social, da economia, da cultura … constitui o elemento primordial da vocação e da identidade do fiel leigo. Isto não obsta a que os fiéis leigos assumam várias responsabilidades e serviços nas suas comunidades cristãs. Todavia, a autenticidade da sua vocação laical não se manifesta particularmente pela assunção de “serviços eclesiásticos”, mas, antes de mais, pelo testemunho dos valores do Evangelho na vida familiar, profissional e social, numa vivência comunitária da fé.
Graças à grandeza da sua vocação em Cristo, os fiéis leigos não são, pois, meros executores de “instruções” recebidas da hierarquia da Igreja, mas – pela sua consagração baptismal – são chamados a tomar iniciativas, segundo os carismas recebidos do Espírito Santo. Todavia, o julgamento sobre a autenticidade dos carismas e o seu uso, pertence à autoridade da Igreja, a quem compete discernir e acolher os sinais do Espírito (cf. I Tes 5,12.19-21), de modo que todos os carismas concorram, na sua diversidade e complementaridade, para o bem comum (cf. LG 12). A fé deve ser vivida na Igreja e com a Igreja, embora tenha uma dimensão pessoal insubstituível.
4. A MISSÃO DOS FIÉIS LEIGOS
6. Como afirma o Papa Francisco: “todos somos chamados a crescer como evangelizadores. Devemos procurar simultaneamente uma melhor formação, um aprofundamento do nosso amor e um testemunho mais claro do Evangelho. […] Todos somos chamados a dar aos outros o testemunho explícito do amor salvífico do Senhor, que, sem olhar às nossas imperfeições, nos oferece a sua proximidade, a sua Palavra, a sua força, e dá sentido à nossa vida. O teu coração sabe que a vida não é a mesma coisa sem Ele; pois bem, aquilo que descobriste, o que te ajuda a viver e te dá esperança, é o que deves comunicar aos outros” (EG 121).
O campo próprio da actividade evangelizadora dos fiéis leigos, como já se disse, é o das rea-lidades temporais: o mundo da política, da assistência social, da economia, da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos “mass media” e ainda outras realidades aber-tas para a evangelização: a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento humano. Tudo a partir da nossa identidade cristã de nos saber-mos amados por Deus-Amor e chamados a ser instrumentos do seu amor. Quantos mais leigos houver impregnados do Evangelho, responsáveis em relação a tais realidades e com-prometidos claramente nas mesmas, competentes para as promover e conscientes de que é necessário fazer desabrochar a sua identidade cristã, muitas vezes escondida e asfixiada, tanto mais essas realidades – sem nada perderem do seu carácter humano – se colocam ao serviço da edificação do Reino de Deus e, por conseguinte, da salvação em Jesus Cristo (cf. EN 70).
Nem os cuidados familiares, nem as outras ocupações “profanas”, devem ser alheias à vida espiritual do fiel leigo (AA 4). Vividos em Cristo, todos os trabalhos, orações e compromissos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o labor de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, assim como as próprias dificuldades da vida, consagram a Deus o próprio mundo (cf. LG 34). Dessa forma, o estar e o agir no mundo são, para os fiéis leigos, uma realidade não apenas antropológica e sociológica, mas também, e especificamente, teológica e eclesial. É vivendo uma forte identidade cristã no mundo, que Deus manifesta o Seu Amor e comunica a especial vocação dos leigos de procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo os desígnios de Deus (cf. CFL 15). Um cenário maravilhoso se abre então aos olhos iluminados pela fé: o de inúmeros fiéis leigos, homens e mulheres, que, precisamente na vida e nas ocupações do dia a dia, muitas vezes “invisíveis” ou até incompreendidos e ignorados pelos grandes da terra, mas vistos com amor pelo Pai, são trabalhadores incansáveis que cultivam a vinha do Senhor, artífices humildes do crescimento do Reino de Deus na história (cf. CFL 17).
4.1 A defesa da vida e da dignidade da pessoa humana
A missão do fiel leigo na sociedade encontra o seu fundamento – e a plataforma de diálogo e colaboração com quem não partilha a fé cristã – no respeito profundo pela dignidade humana de cada filho e filha de Deus, criados à Sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,27), e na atenção particular aos mais vulneráveis, sabendo que uma ofensa a um destes mais pequeninos é uma ofensa ao próprio Deus (cf. Mt 25,31-46 e I Jo 4,20).
Em virtude da sua dignidade pessoal, o ser humano é sempre um valor em si e por si e exige ser considerado e tratado como tal. Nunca pode ser considerado e tratado como um objecto que se usa, um instrumento, uma coisa. Descobrir e ajudar a descobrir a dignidade inviolável de cada pessoa humana constitui uma tarefa essencial do serviço que a Igreja – e nela, os fiéis leigos – é chamada a prestar à família humana.
Neste contexto, é fundamental que os leigos cristãos – e todos os membros da sociedade – promovam e defendam a dignidade inviolável de cada Pessoa e principalmente daquelas que se encontram em situação de vulnerabilidade, seja por responsabilidade própria ou alheia. É com profunda tristeza e inquietação que vemos a forma desumana como muitos dos nossos irmãos e irmãs são maltratados em diversas situações quotidianas: crianças impedidas de nascer; pessoas exploradas no seu trabalho, desalojadas e expulsas das suas áreas de residência sem justa compensação; pessoas vítimas de violência e de outros abusos por serem imigrantes ilegais ou por estarem detidos ou presos; pessoas sem emprego, sem perspectivas de futuro; crianças e velhos vítimas das crenças na feitiçaria, etc. (cf. GS 27). É importante que os leigos cristãos não sejam meros espectadores diante deste mundo injusto, mas sintam sobre si a responsabilidade de se comprometerem activamente, pessoalmente e em grupo, na luta a favor da vida, da pessoa humana e da sua dignidade, de uma sociedade mais justa e fraterna.
11. A desestruturação familiar é um dos mais graves problemas que as nossas sociedades enfrentam. É paradoxal que o investimento cada vez maior na preparação académica e profissional não seja acompanhado de uma maior preparação dos jovens e adultos para as exigências da vida familiar. Neste campo, os cursos de preparação para o matrimónio são chamados a desempenhar um papel cada vez mais relevante, visando não apenas a celebração litúrgica, mas a construção de uma vida cristã em família. Todavia, na vida familiar, como em muitos outros domínios, o exemplo vale mais que todas as palavras e conselhos. Infelizmente também aqui os interesses mesquinhos de curto prazo parecem sobrepor-se, demasiadas vezes ao amor e ao respeito mútuos, que são a base de uma família estável e feliz.
12. O casal e a família constituem o primeiro espaço para o empenhamento social dos fiéis leigos. Trata-se de um compromisso que só poderá ser vivido adequadamente na convicção do valor único e insubstituível da família para o progresso da sociedade e da própria Igreja. É urgente, portanto, realizar uma acção vasta, profunda e sistemática, apoiada não só na cultura, mas também nos meios económicos e nos instrumentos legislativos, destinada a assegurar à família a sua função de ser o lugar primário da humanização da pessoa e da sociedade. A acção apostólica dos fiéis leigos consiste, antes de mais, em tornar a família consciente da sua identidade de primeiro núcleo social e do seu papel original na sociedade e na Igreja, para que a própria família se torne cada vez mais protagonista activa e responsável do seu crescimento e da sua participação na vida social (cf. CFL 40). A família é a primeira célula da sociedade e a primeira escola da fé. Ressalte-se a importância, por isso, da família no surgimento e desenvolvimento das vocações de especial consagração: vocações ao sacerdócio, à vida religiosa, leigos consagrados. Sobre este tema, é salutar retomar as mensagens pastorais da CEAST sobre a família, no triénio 2011-2013.
13. Uma das áreas mais exigentes do apostolado cristão é o compromisso na vida e nas acti-vidades políticas. Por isso, “a Igreja louva e estima a actividade daqueles que se dedicam ao bem da coisa pública e aceitam os respectivos cargos para bem de todos” (GS 75). Àqueles que desprezam a actividade política ou acham que os cristãos se devem afastar das actividades políticas porque estas são “lugar corrupção”, o Concílio Vaticano II ensina que as realidades temporais não são “inimigas da alma”, mas o lugar onde acontece a salvação de Jesus Cristo, pelo que os leigos são especialmente chamados a nele intervir. A política é uma for-ma exigente de viver a caridade. Como afirmou Paulo VI, na Octogesima Adveniens, 86: “A política é uma maneira exigente – se bem que não seja a única – de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros”.
No exercício do poder político é fundamental o espírito de serviço, único capaz de, ao lado da necessária competência e eficiência, tornar transparente a actividade dos políticos, como aliás o povo justamente exige. Isso pressupõe a luta aberta e a decidida superação de certos vícios, tais como:
• o recurso à deslealdade e à mentira,
• o desperdício do dinheiro público em vantagem de uns poucos e com miras de clien-tela,
• o uso de meios equívocos ou ilícitos para a todo o custo conquistar, conservar e aumentar o poder.
Isso exige que os fiéis leigos assumam uma plena e real participação na vida da Igreja e se deixem iluminar, tanto pela sua doutrina social (cf. CFL 42) como pelo testemunho de cristãos que assumiram o exercício da política de forma íntegra, como Konrad Adenauer (Ale-manha), Robert Schuman (França), Alcide De Gasperi (Itália), Julius Nyerere (Tanzânia), Lou-renço Mendes da Conceição (Angola) e tantos outros
16. Por outro lado, no que se refere aos meios de comunicação, tornam-se urgentes, tanto uma acção educativa em ordem ao sentido crítico, animado da paixão pela verdade, como uma acção de defesa da liberdade, do respeito pela dignidade da pessoa humana, da eleva-ção da autêntica cultura dos povos, com a recusa, firme e corajosa, de toda a forma de monopolização e de manipulação.
Mas não deve ficar por aqui a responsabilidade pastoral dos fiéis leigos: em todos os cami-nhos do mundo, também no da imprensa, do cinema, da rádio, da televisão e do teatro, deve-se anunciar o Evangelho que salva (CFL 44).
5. OS MOVIMENTOS E ASSOCIAÇÕES LAICAIS
17. A comunhão eclesial, já presente e operante na acção individual, encontra uma expres-são específica no agir associado dos fiéis leigos, isto é, na acção solidária que eles desenvol-vem ao participar responsavelmente na vida e na missão da Igreja.
Há uma grande riqueza e variedade de grupos, movimentos e associações de fiéis leigos. Mesmo aparecendo sob formas bastante diferentes, convergem na finalidade que os anima: a de participar responsavelmente na missão da Igreja de levar o Evangelho de Cristo ao mundo, qual fonte de esperança e de renovação para a sociedade. Deste modo, não faz sentido qualquer sentimento de superioridade ou rivalidade, sendo todos chamados a colaborar, de forma complementar e construtiva, na missão da Igreja.
Os diversos grupos, movimentos e associações de fiéis leigos representam, para muitos, uma ajuda preciosa em favor de uma vida cristã coerente com as exigências do Evangelho e de um generoso empenho missionário e apostólico. Por isso, devem merecer, por parte dos pastores e das religiosas e dos religiosos, uma especial atenção no seu acompanhamento pastoral e no seu enquadramento na vida da Igreja, favorecendo a sua participação activa na comunidade cristã.
6. OS MINISTÉRIOS LAICAIS
21. O fiel leigo «não pode fechar-se nunca em si mesmo, isolando-se espiritualmente da comunidade, mas deve viver num contínuo intercâmbio com os outros, com um vivo sentido de fraternidade, na alegria de uma igual dignidade e no empenho em fazer frutificar ao mesmo tempo o imenso tesouro recebido em herança. O Espírito do Senhor dá-lhe, como aos outros, múltiplos carismas; convida-o a diferentes ministérios e funções; recorda-lhe, como também recorda aos outros em relação a ele, que tudo o que o distingue não é um suplemento de dignidade, mas uma especial e complementar habilitação para o serviço… Deste modo, os carismas, os ministérios, as funções e os serviços do fiel leigo existem na comunhão e para a comunhão. São riquezas complementares em favor de todos, sob a sábia orientação dos Pastores» (CFL 20).
24. Neste campo, importa igualmente dedicar especial atenção à condição e ao papel da mulher, num dúplice objectivo:
• reconhecer e convidar a que todos reconheçam o indispensável contributo da mulher na edificação da Igreja e no progresso da sociedade
• e elaborar, além disso, uma análise mais específica acerca da participação da mulher na vida e na missão da Igreja.
O claro reconhecimento da dignidade pessoal da mulher constitui o primeiro passo a dar-se para promover a sua plena participação, tanto na vida eclesial como na social e pública. A Igreja, como expressão da sua missão, deve opor-se firmemente a todas as formas de dis-criminação e de abuso das mulheres. As mulheres participem na vida da Igreja sem discriminação alguma. As mulheres, que já têm tanta importância na transmissão da fé e na prestação de serviços de toda a espécie na vida da Igreja, sejam associadas à preparação dos documentos pastorais e das iniciativas missionárias e reconhecidas como cooperadoras da missão da Igreja, na família, na profissão e na comunidade civil. (cf. CFL 49.51)
7. A FÉ COMO VIDA E COMPROMISSO – BUSCAR A SANTIDADE CRISTÃ NO MUNDO
25. Todos os fiéis são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade (cf. LG 40). Neste contexto, é bom não esquecer as palavras do Papa João Paulo, na Carta Apostóli-ca “Novo Millennio Ineunte”, escrita para o início do novo milénio: “Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade. (…) Terminado o jubileu, volta-se ao caminho ordinário, mas apontar a santidade permanece de forma mais evidente uma urgência pastoral.” (NMI 30)
É preciso, pois, redescobrir, em todo o seu valor programático, o capítulo V da Constituição dogmática Lumen Gentium, intitulado «vocação universal à santidade». Se os Padres conciliares deram tanto relevo a esta temática, não foi para conferir um toque de espiritualidade à eclesiologia, mas para fazer sobressair a sua dinâmica intrínseca e qualitativa. Na verdade, colocar a Programação Pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências. Significa exprimir a convicção de que, se o Baptismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus, através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. “Perguntar a um catecúmeno: «Queres receber o Baptismo?» Significa ao mesmo tempo pedir-lhe: «Queres fazer-te santo?» Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: «sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai Celeste» (Mt 5, 48; NMI 30 2 31).”
Para que não se caia nestas tentações, é fundamental um trabalho contínuo e sistemático de formação dos fiéis leigos sobre as responsabilidades inerentes a uma vida cristã autêntica. É desejável que, na preparação para o sacramento da Confirmação, todos os crismandos façam, pelo menos, um ano de formação catequética sobre o pensamento social da Igreja, para que se tornem verdadeiramente cristãos-adultos na fé e na vida.
O acompanhamento de jovens universitários e de profissionais cristãos – em campos tão diversos como a educação, a saúde, a justiça, a política partidária – é, sem dúvida, uma das principais prioridades pastorais das nossas Igrejas. Por outro lado, importa ter consciência que este necessário esforço de formação não se pode limitar a transmitir conhecimentos, devendo ser acompanhado de um enquadramento em pequenos grupos, movimentos, asso-ciações, onde se possam aprofundar as questões, partilhar a fé e alimentar uma relação orante com Deus.
8. CONCLUSÃO
29. Novas situações, tanto eclesiais como sociais, económicas, políticas e culturais, reclamam hoje, com uma força toda particular, a acção dos fiéis leigos. Se o desinteresse sempre foi inaceitável, hoje torna-se ainda mais grave. Como nos recorda o Papa Francisco, “cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja. Embora não suficiente, pode-se contar com um numeroso laicado, dotado de um arreigado sentido de comunidade e uma grande fidelidade ao compromisso da caridade, da catequese, da cele-bração da fé. Mas, a tomada de consciência desta responsabilidade laical, que nasce do Baptismo e da Confirmação, não se manifesta de igual modo em toda a parte; nalguns casos, porque não se formaram para assumir responsabilidades importantes, noutros, por não encontrar espaço nas suas Igrejas particulares para poderem exprimir-se e agir, por causa dum excessivo clericalismo que os mantém à margem das decisões. Apesar de se notar uma maior participação de muitos nos ministérios laicais, este compromisso não se reflecte na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e económico; limita-se, muitas vezes, às tarefas no seio da Igreja, sem um empenhamento real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade. A formação dos leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais [ainda] constituem um importante desafio pastoral” (EG 102).
Apesar das dificuldades, não podemos desanimar, pois sabemos em quem pusemos a nossa confiança (cf. II Tim 1,12). É o Senhor Jesus que nos conduz e nos encoraja dizendo: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem. Eu venci o mundo”! (Jo 16,33).
Que a Virgem Santa Maria, modelo de vida e santidade, nos guie pelos caminhos da vida e nos ensine a “fazer tudo o que o seu Filho nos disser…” (cf. Jo 2,2).
Luanda, 29 Outubro 2014
OS BISPOS CATÓLICOS DE ANGOLA E S. TOMÉ E PRÍNC