Duplo Principio metodológico da catequese
O princípio da «fidelidade a Deus e fidelidade ao homem» leva a evitar toda contraposição ou separação artificial, ou ainda presumível neutralidade entre método e conteúdo, afirmando, pelo contrário, a sua necessária correlação e interação. O catequista reconhece que o método está a serviço da revelação e da conversão e, portanto, é necessário valer-se dele. Por outro lado, o catequista sabe que o conteúdo da catequese não é indiferente a qualquer método, mas sim exige um processo de transmissão adequado à natureza da mensagem, às suas fontes e linguagens, às concretas circunstâncias da comunidade eclesial, à condição de cada um dos fiéis aos quais a catequese se dirige. Pela intrínseca importância tanto na tradição quanto na atualidade catequética, merecem ser recordados os métodos de aproximação à Bíblia, o método ou «pedagogia do documento», do Símbolo em particular, uma vez que «a catequese é transmissão dos documentos da fé», o método dos sinais litúrgicos e eclesiais, o método próprio dos meios de comunicação. Um bom método catequético é garantia de fidelidade ao conteúdo. DGC 149.
Fidelidade ao homem
CONHECER O CATEQUIZANDO
Acreditamos que o grande desafio que temos enfrentado nos últimos tempos, nos encontros de catequese, é o de conhecermos as pessoas a quem vamos transmitir uma mensagem, catequizar. A catequese tem cada vez mais ampliado o número dos seus interlocutores, por isso precisamos pensar em uma catequese do ventre materno à pessoa idosa. Precisamos superar a ideia de uma catequese apenas para a criança, com o objetivo do sacramento somente.
A catequese deve ser compreendida com processo ou itinerário, caminho que uma pessoa percorre ao longo da sua vida, de sua história:Tal processo procurará unir fé e vida; dimensão pessoal e dimensão comunitária; instrução doutrinária e educação integral; conversão a Deus e atuação transformadora da realidade; celebração dos mistérios e caminhada com o povo.
Para que uma pessoa, seja ela criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso, possa amadurecer na fé, é preciso que o conteúdo, a mensagem catequética seja adaptado ao atual desenvolvimento psicológico da pessoa. Apresentemos a seguir alguns indicativos do desenvolvimento na linha de pesquisa da psicologia do desenvolvimento e sugerimos algumas alternativas na ação para os catequistas.
1. Criança de 0 a 3 anos
Nesta fase de vida a criança aprende com frases curtas, é importante responder somente aquilo que a criança perguntar, sempre com frases curtas e diretas. A partir de estórias, contos e fábulas, ter diálogos informais com as crianças. Isto facilita a apreensão do que está sendo falado para ela, sempre utilizando um vocabulário conhecido pela criança, pelo grupo, inserindo, gradativamente, outras palavras de fácil compreensão no vocabulário.
2. Criança de 4 a 6 anos
As crianças nesta fase são ativas, curiosas, têm pouco poder de concentração no desenvolvimento das atividades, buscam conhecer tudo o que está à sua volta, têm um interesse aguçado para saber a origem das coisas, querem saber o porquê; mesmo tendo um vocabulário limitado gostam de conversar, por isso o catequista deve utilizar sempre uma linguagem simples. Gostam de repetir estórias que ouviram ou criar estórias a partir do que viveram com os pais, responsáveis e também no encontro da catequese. Ainda é fase de fantasia, gostam de “fazer de conta”. A música exerce influência em sua formação; gostam de ser elogiadas em tudo o que fazem; lembre-se que a criança vive o momento de centrar-se em si mesma, por isso sempre irá chamar a atenção ao que está fazendo.
3. Criança de 7 a 9 /10 anos
Nesta fase a criança está cheia de energia, é muito ativa e quer sempre estar em ação. Ficar parada, sentada não é muito do seu perfil, por isso tem necessidade de expressão e expansão. A criança é muito prática, por isso ficar muito dentro de teorias, de leituras, de textos não contribui para uma autêntica ação evangelizadora. O catequista deve estar atento e criar atividades movimentadas e alegres, que motivem o trabalho em grupo, o coletivo: jogos lúdicos, dinâmicas, entre outros. Sem forçá-las, é importante incentivar a leitura de pequenos versículos bíblicos e a escrita nas atividades que foram propostas. A catequese deve estar atenta para o coletivo, atividades em grupos, pesquisas, revista, recortes etc. É momento para discutir termos como: respeito, confiança, honestidade, amor, sinceridade pois a consciência moral já está estabelecida. O catequista pode utilizar parábolas de Jesus que abordem amor, fé e perdão.
4. Pré-adolescência (10/11-14 anos)
A pré-adolescência é uma preparação para adolescência, período em que a criança se desliga daquilo que a prende à infância e busca construir uma nova identidade para si. Há uma ruptura do círculo infantil, um vai e vem entre os interesses próprios da infância e da adolescência e a busca de uma personalidade nova. As brincadeiras infantis são abandonadas e entram em cena os jogos de raciocínio, típicos dos adultos. Ainda é a fase do “clube do bolinha”, aquele onde “menina não entra” e da “luluzinha”, onde ‘menino não entra’. Nesta fase o marco biológico é prevalecente, tais como o surgimento dos pelos, o crescimento meio desordenado do corpo, momento de transformações hormonais, conhecido com puberdade. Em ambos os sexos, a maior parte dos níveis hormonais adultos é atingida em torno dos 16 anos, mas as meninas começam a puberdade, em média, aos 11 anos e os meninos aos 13 anos.
Neste período é importante dar autonomia ao pré-adolescente para que ele possa ser responsável por suas questões. Fazer com que eles procurem respostas para os seus conflitos, principalmente relacionados com os da educação da fé. Como exemplo, citamos o caso verídico de uma menina de 13 anos que se encontra em profunda crise de fé quanto à Igreja que ela quer participar: se a católica ou a evangélica. Não cabe ao catequista começar a guerra religiosa, mas fazê-la perceber o que ela realmente está procurando, sem orientá-la para uma ou outra igreja. Nesta fase também é importante levar em conta a formação da sexualidade e da afetividade. É necessário compreender a pessoa num contexto de relacionamento autêntico, de encontro com o outro.
5. Adolescência Intermediária (14-17 anos)
É a fase da busca de personalidade, da liberdade, do amor e da realização pessoal. O adolescente gosta de viver em grupos e sente necessidade de se auto afirmar, de amar e ser amado. Continua sendo a idade das transformações, das grandes mudanças, agora mais de cunho psicológico e social do que biológico. É inconstante nas atitudes e emoções. Neste momento da vida muitos já entram no mundo do trabalho.
Neste momento, vive-se uma personalidade de grandes sonhos e muitos projetos. A busca de Deus para esta fase é muito pessoal, muitas vezes utilizam o termo de Deus como “amigão”, “o cara”, uma pessoa bem próxima nas relações de amizade, por outro lado é comum ter rejeição para a instituição Igreja. Por isso é importante que a catequese com adolescentes deva atentar para o grupo, partir do concreto, do existencial, algo que responda à sua curiosidade intelectual e necessidade de atividade. É importante que, já como adolescentes, realizem ações transformadoras no seu ambiente específico.
6. Adolescência tardia (17-20 anos
Este período pode ser caracterizado como o final da adolescência, entendido como momento de firmar, a partir de relacionamentos maduros, compromissos permanentes, próprios do universo do jovem que caminha para ser adulto. Neste período o adolescente vive um momento de certa estabilidade em seu
desenvolvimento e já é capaz de uma atividade constante, além de avaliar melhor suas atitudes e a das outras pessoas. Tem potencial para participar ativamente da vida em comunidade e vive relações de amizade profunda.
7. Juventude(15 a 24 anos)
O início da fase da juventude é marcado por mudanças psíquicas a respeito das relações sociais, da atenção ao próprio corpo, da descoberta de si, ampliação do campo cognitivo e da afirmação da própria identidade. O jovem gosta de viver em grupos heterogêneos, busca desesperadamente contatos sociais, embora viva afastado da igreja sente necessidade de íntima relação com Deus. Tem uma vida emotiva rica e é facilmente depressivo ou expansivo. Procura aprofundar sua identidade e por isso é facilmente influenciável pelos outros e pelos meios de comunicação social. Adquire uma grande capacidade de discutir ideias e de se comunicar com os outros. A Catequese tem a missão prioritária de ajudá-lo em sua vida vocacional e afetiva de um modo mais acentuado.
8. Catequese com adultos (22 – 64 anos)
Precisamos voltar nossa atenção para a catequese com adultos e não nos fixarmos apenas em uma catequese infantil. Podemos assim afirmar que é a principal forma de catequese, porque se dirige a pessoas que têm as maiores responsabilidades e capacidade para viverem a mensagem cristã na sua forma plenamente desenvolvida. É preciso que nossa visão de catequese com adultos não seja restrita
àquela que acontece no salão da comunidade, mas ao pensarmos em catequese com adultos tenhamos em mente a catequese permanente que acompanha a pessoa ao longo da sua vida. Por isso existem diversos espaços para a catequese com adultos, são eles: as comunidades Eclesiais de Base, círculos bíblicos, grupos de reflexão do Evangelho etc.
9. Catequese com pessoa idosa (acima dos 65 anos)
Acredito que ninguém mais se assusta ao falarmos de uma catequese com pessoa idosa, no entanto, é urgente pensar no específico que esta catequese deve oferecer pois sabemos que para cada fase da vida o conteúdo como mensagem do Evangelho deve ser adaptado, sempre levando em consideração o momento existencial que a pessoa vive. Esta fase da vida é marcada por um olhar retrospectivo que faz com que, ao nos aproximarmos do final da vida, sintamos a necessidade de aperfeiçoar o que dela fizemos, revendo escolhas, realizações, opções e fracassos. Nesta etapa da vida a questão que se coloca é: Teve a minha vida sentido, ou falhei? Reconcilia-se com a mágoa e a angústia e encara a existência como algo positivo.
A condição de pessoa idosa exige uma catequese de esperança, que a leve a viver bem esta fase da própria vida e a dar testemunho às novas gerações. Uma catequese que perpasse pela Leitura Orante da Palavra de Deus, uma catequese que conduza a pessoa idosa à meditação, à contemplação. Pensar uma catequese da reconciliação e do perdão.
Cfr. DGC 1997; Revista De Magistro de Filosofia Ano VIII no. 16 – 2015/2